ENCONTRO DE ENFERMEIROS - CIDADANIA
NA ENFERMAGEM
Auditório Hospital D.
Estefânia 3/03/2018
SÍNTESE :
Das 176 inscrições para o encontro estiveram presentes da
parte da manhã na sala 101 pessoas e da
parte da tarde 118, tendo sido recebidas algumas mensagens de inscritos
justificando ausências por motivos inesperados/familiares ou em consequência da
intempérie, como por exemplo o caso dos enfermeiros da Madeira.
O programa foi totalmente cumprido, num ambiente sereno que
permitiu o questionamento aos vários elementos das mesas dentro dos períodos de
tempo disponibilizados, sendo reconhecido por alguns dos presentes a mais-valia
da informação recebida e das hipóteses futuras para o seu aprofundamento
noutras iniciativas a promover pelo grupo dinamizador do blogue Cidadania na
Enfermagem.
Na Abertura, (embora essa informação esteja presente no
blogue) este grupo de enfermeiros foi novamente identificado, explicadas as
razões para a sua existência e divulgadas e justificadas as áreas que considera
prioritárias para debate, solicitando aos presentes que divulguem a
possibilidade de intervenção agora criada, contribuindo com comentários e
sugestões nesse espaço on line.
O blogue é um meio para isso,
uma possibilidade de construção de
pensamento crítico importantíssimo para a Enfermagem nos tempos que correm.
Das áreas selecionadas, o grupo dinamizador quis promover o debate em torno a
duas que considerou mais prioritárias dentre as selecionadas
(Ensino/Desenvolvimento Profissional) e que estão relacionadas entre si.
Foi salientada a necessidade da profissão ser mais
compreendida e valorizada, numa época em que as novas políticas, as novas
orientações e os contextos onde se trabalha sofrerem variadas influências que
podem ter repercussões negativas para os enfermeiros, se estes não se fizerem ouvir de forma mais sistematizada,
fundamentada e científica.
Há que desocultar a
Enfermagem a nível da sociedade, das organizações, das estatísticas de
saúde (onde os enfermeiros não aparecem) e da forma de trabalhar não partilhada
com os outros profissionais desta área. Foi reconhecida a tendência actual para
outros ocuparem o lugar na equipa de saúde que por direito era nosso, havendo
que reforçar a complementaridade do papel dos enfermeiros na prestação de
cuidados.
As actuais situações de saúde complexas na nossa sociedade implicam
também evidenciar o contributo da
enfermagem vocacionado para os ganhos em saúde, por exemplo perspectivando-o
a 10 anos, ao mesmo tempo promovendo o seu próprio desenvolvimento
profissional, tal como outras iniciativas internacionais já o estão a fazer.
A mesa Ensino/Formação reforçou alguns constrangimentos
existentes e lançou algumas questões importantes que merecem ser discutidas e
aprofundadas, numa tentativa de se contornarem ou superarem os obstáculos
existentes.
Embora o Ensino da Enfermagem seja actualmente de nível superior
no subsistema politécnico, continuamos com um sistema binário muito vincado,
tendo-se perdido em 2007 a hipótese de, à semelhança da maioria das profissões
da área da saúde, ter conquistado o mestrado integrado, com consequências
negativas também na valorização salarial dos enfermeiros, o que muito os
revolta.
As propostas da OCDE, há muito pouco tempo divulgadas,
permitem que, quanto à atribuição do grau de Doutor e na investigação, o Ensino
Politécnico se possa aproximar do Ensino Universitário embora de forma muito
controlada, parecendo haver vontade política e europeia para uma certa
“uniformização” que não resolverá de todo as diferenças existentes pelo menos a
curto prazo, no entendimento de alguns dos presentes.
A enfermagem enquanto disciplina e profissão só se poderá
afirmar e desenvolver com base na investigação,
apresentando dados que permitam solidificar e consolidar o conhecimento e
sobretudo permitindo o uso dos dados obtidos na melhoria das práticas. Tem que
se dar algum tempo para se reflectir sobre
quais as prioridades da investigação e fazer sentir a todos com que
lidamos a necessidade de terem
enfermeiros a seu lado.
Outras questões prementes na actual situação do Ensino foram
remetidas, a pedido de muitos presentes, para outros fora (tal como debater/analisar
consequências de qual dos subsistemas deverá ministrar o ensino da
enfermagem, de como pensar a formação
especializada, a articulação ensino/exercício e prever a hipótese do
aparecimento da formação de auxiliares de enfermagem).
Foi solicitado a este grupo que continuasse a promover o
debate e divulgasse informação sobre o tema de forma mais abrangente, pois
reconheceu-se a existência de alguma iliteracia
em enfermagem a este respeito.
Ficou patente que, dados os contextos onde os enfermeiros
exercem e as pressões sociais a que todos estamos sujeitos, não existe muito tempo para consulta de
documentação, para reflexão e sobretudo para discussão aprofundada, pelo que
estes fora são muito úteis para redirecionar as atenções para o que é
importante, e evitar um certo distanciamento
e alheamento favorável a que poucos decidam o futuro profissional de muitos.
Na mesa Desenvolvimento Profissional e Carreira participaram
representantes do SEP, SE e o Presidente da APEGEL. Faltou a voz do órgão
regulador, embora tivesse sido convidado, numa altura em que ele preconiza diversas
alterações regulamentares ainda muito pouco debatidas e conhecidas.
Uma carreira reflete o desenvolvimento profissional, embora
possa significar coisas diferentes consoante se trabalhe em instituições
publicas (também com diferentes vínculos) e em organizações privadas...São
muitos os constrangimentos legislativos e conjunturais que
dificultam a estruturação do desenvolvimento profissional baseado apenas em
carreiras. O tipo de gestão que está instituído não se compadece com desejos e
aspirações legítimas, sendo urgente que os enfermeiros se organizem de forma a
discutir um plano estratégico que valorize a enfermagem, reflita sobre a sua própria
organização de trabalho e evidencie o seu valor na equipa de saúde.
É muito importante que
a reestruturação da carreira deva ser adaptável às mudanças estruturais
no modelo de desenvolvimento profissional dos Enfermeiros.
De acordo com a APEGEL os pilares fundamentais para o
desenvolvimento profissional estão directamente relacionados com a regulação da
profissão e implicam assegurar a segurança na prestação de cuidados (baseada em
dotações seguras, conhecimentos seguros, práticas seguras e organizações
seguras), em definir áreas de exercício, em reconhecer competências e em reforçar
a liderança. Estes aspectos deverão estar na base da construção de carreiras, aspectos
que vão muito para além de simples questões
remuneratórias... Defende que a carreira terá de traduzir claramente as
competências especializadas e as dotações seguras, terá de realçar o importante
papel dos Enfermeiros na vigilância da saúde das pessoas e das populações e que
terá de assegurar o desenvolvimento profissional dos Enfermeiros.
As duas estruturas sindicais presentes apresentaram os seus
pontos de vista para o desenvolvimento de carreira, verificando-se alguma
divergência na fundamentação das suas propostas. Uma proposta (SEP) tem em
conta os constrangimentos legislativos existentes, outra prefere contorná-los
através da persistência e convicção histórica das suas razões (SE).
No debate gerado ao longo do dia, foram colocadas algumas
questões aos elementos das Mesas, as quais se relacionaram com: competências
com que os jovens Enfermeiros concluíram a licenciatura e se no mercado de
trabalho para iniciarem o exercício profissional encontram possibilidade de as
aperfeiçoarem; com as condições dos contextos da prática clínica para serem
utilizadas como unidades para estágios; com a necessidade de se proporcionarem
condições para que os docentes e os Enfermeiros da área clínica possam circular
entre as duas áreas de trabalho em intercomunicabilidade reciproca; as
condições que atualmente os Enfermeiros Gestores (das categorias subsistentes)
possuem para o exercício da gestão; e com os requisitos, condições e métodos
mais pertinentes para selecionar os Enfermeiros mais aptos e mais capazes para
os postos de chefia e direção (em futura carreira).
Quer durante o debate do tema da manhã, quer no tema da parte
da tarde, os participantes evidenciaram que houve uma regressão na Enfermagem em Portugal, pois continuamos em circulo, discutindo
problemas que já haviam sido contornados, mas que voltaram, quando se pretendia
que já estivéssemos numa linha reta em direção ao futuro (alguns dos
participantes deram a conhecer situações de desempenho que os revolta e
desencanta).
Deve-se apostar mais no debate de critérios para o desenvolvimento profissional em função das
qualificações dos enfermeiros e do seu contributo e mais valia na equipa de
saude, promovendo, ao mesmo tempo, a sua autonomia.
Foi também sugerido que a enfermagem se faça representar em fora de outras profissões da área da
saúde, de modo a fazer ouvir a sua voz, saindo do seu restrito âmbito
profissional e reafirmando o seu exercício de cidadania.
Em 2018, ano de diversas efemérides para a Enfermagem
Portuguesa (que demonstram o seu crescimento enquanto profissão) e que foram
lembradas na abertura, o grupo dinamizador do blogue Cidadania na
Enfermagem sentiu-se apoiado pelos participantes
para prosseguir com iniciativas que promovam
o debate de ideias e possam aportar contributos para a efectiva valorização
da enfermagem.
A pedido dos participantes, no blogue iremos disponibilizar
toda a informação que conseguirmos obter, contribuindo para um maior
esclarecimento de todos os que o consultarem, nomeadamente, fornecendo os
textos que estiveram na base deste Encontro.
Muito obrigado a todos os presentes, saímos todos a ganhar!