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12/06/19

Enfermeira Borges Coelho - Quando parte quem sempre lutou pela liberdade ficamos mais pobres



Sobre Isaura Borges Coelho
Quando parte quem sempre lutou pela liberdade ficamos mais pobres
A Enfª Isaura Borges Coelho foi e continuará na nossa memória como a enfermeira que na luta pelo casamento das enfermeiras e por enfrentar a Pide conheceu o que a repressão teve de mais duro – a perca da liberdade e dos direitos políticos.
Foi uma enfermeira para quem a cidadania corria nas suas veias e por isso nunca dela abdicou. Conhecemo-la sempre lutadora, numa vida que vale a pena reter e por isso afirmar que a melhor homenagem que como cidadãs/cidadãos enfermeiras e enfermeiros podemos fazer é dizermos: obrigada e que o seu exemplo nos dá força para continuarmos a luta que não termina pela liberdade e pela dignificação da enfermagem. 

Nota - Isaura Borges Coelho nasceu em Portimão a 20 de junho de 1926. Frequentou o curso de Enfermagem na Escola Artur Ravara e iniciou funções nos Hospitais Civis de Lisboa, no Hospital dos Capuchos, em 1952.
Em plena ditadura fascista e face às condições de trabalho deploráveis – obrigatoriedade de 30 turnos nocturnos de 12 horas que muitas vezes se prolongavam pelas 24 horas e apenas 1 folga por semana – encabeçou a luta pela sua melhoria.
Ao tomar conhecimento do despedimento de doze enfermeiras do Hospital Júlio de Matos por terem casado, tomou a iniciativa de lançar um abaixo-assinado dirigido a Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor dos hospitais tendo reunido centenas de assinaturas a exigir o casamento das enfermeiras.
O decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, estabelecia no artigo 60 que «Nos lugares dos serviços de enfermagem e domésticos (serviço interno) a preencher por pessoal feminino, só poderão de futuro ser admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem filhos, as quais serão substituídas logo que deixem de verificar-se estas condições». A proibição do casamento das enfermeiras só terminaria, depois de longa luta, com o decreto nº 44923, de Março de 1963.
Na verdade, a proibição do casamento das enfermeiras e a luta pela sua revogação marcam 25 anos da história da enfermagem e dos movimentos feministas durante o Estado Novo. Em 1953, Isaura Borges Coelho foi presa pela PIDE e mantida cativa durante 4 anos por ser a impulsionadora do “movimento das enfermeiras” pelo casamento. Foi espancada, torturada e colocada em isolamento. Com 30 quilos, foi internada primeiro no Hospital de Santa Marta e passado um mês, em Santa Maria.
A solidariedade de enfermeiros e médicos durante o seu internamento determinou a sua libertação em 1957
Voltou a Portimão, à casa dos pais, onde lhe foi fixada residência. A PIDE nunca deixou de a vigiar assim como aos seus familiares. Após o 25 de abril, quando lhe ofereceram o lugar de enfermeira-chefe nos HCL, recusou, optando pelo seu lugar de enfermeira de 2ª classe na MAC. Subiu, depois, a enfermeira de 1ª e a enfermeira-chefe. Tirou o Curso de Enfermagem Pediátrica e Saúde Infantil e, durante anos, exerceu o cargo de enfermeira-chefe no Serviço de Prematuros.
Até à reforma manteve-se como delegada sindical das enfermeiras da Maternidade Alfredo da Costa no Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
Em 2002, o Presidente da República Jorge Sampaio atribuiu-lhe a Ordem da Liberdade.