Sobre Isaura Borges Coelho
Quando parte quem sempre lutou pela liberdade ficamos mais
pobres
A Enfª Isaura Borges Coelho foi e continuará na nossa
memória como a enfermeira que na luta pelo casamento das enfermeiras e por
enfrentar a Pide conheceu o que a repressão teve de mais duro – a perca da
liberdade e dos direitos políticos.
Foi uma enfermeira para quem a cidadania corria nas suas
veias e por isso nunca dela abdicou. Conhecemo-la sempre lutadora, numa
vida que vale a pena reter e por isso afirmar que a melhor homenagem que
como cidadãs/cidadãos enfermeiras e enfermeiros podemos fazer é dizermos:
obrigada e que o seu exemplo nos dá força para continuarmos a luta que não termina
pela liberdade e pela dignificação da enfermagem.
Nota - Isaura Borges Coelho nasceu em Portimão a 20 de
junho de 1926. Frequentou o curso de Enfermagem na Escola Artur Ravara e
iniciou funções nos Hospitais Civis de Lisboa, no Hospital dos Capuchos, em
1952.
Em plena ditadura fascista e face às condições de trabalho
deploráveis – obrigatoriedade de 30 turnos nocturnos de 12 horas que muitas
vezes se prolongavam pelas 24 horas e apenas 1 folga por semana – encabeçou a
luta pela sua melhoria.
Ao tomar conhecimento do despedimento de doze enfermeiras
do Hospital Júlio de Matos por terem casado, tomou a iniciativa de lançar um
abaixo-assinado dirigido a Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor
dos hospitais tendo reunido centenas de assinaturas a exigir o casamento das
enfermeiras.
O decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, estabelecia
no artigo 60 que «Nos lugares dos serviços de enfermagem e domésticos (serviço
interno) a preencher por pessoal feminino, só poderão de futuro ser admitidas
mulheres solteiras e viúvas, sem filhos, as quais serão substituídas logo que
deixem de verificar-se estas condições». A proibição do casamento das
enfermeiras só terminaria, depois de longa luta, com o decreto nº 44923, de
Março de 1963.
Na verdade, a proibição do casamento das enfermeiras e a
luta pela sua revogação marcam 25 anos da história da enfermagem e dos
movimentos feministas durante o Estado Novo. Em 1953, Isaura Borges Coelho foi
presa pela PIDE e mantida cativa durante 4 anos por ser a impulsionadora do
“movimento das enfermeiras” pelo casamento. Foi espancada, torturada e colocada
em isolamento. Com 30 quilos, foi internada primeiro no Hospital de Santa Marta
e passado um mês, em Santa Maria.
A solidariedade de enfermeiros e médicos durante o seu internamento determinou a sua libertação em 1957
A solidariedade de enfermeiros e médicos durante o seu internamento determinou a sua libertação em 1957
Voltou a Portimão, à casa dos pais, onde lhe foi fixada
residência. A PIDE nunca deixou de a vigiar assim como aos seus familiares.
Após o 25 de abril, quando lhe ofereceram o lugar de enfermeira-chefe nos HCL,
recusou, optando pelo seu lugar de enfermeira de 2ª classe na MAC. Subiu,
depois, a enfermeira de 1ª e a enfermeira-chefe. Tirou o Curso de Enfermagem
Pediátrica e Saúde Infantil e, durante anos, exerceu o cargo de
enfermeira-chefe no Serviço de Prematuros.
Até à reforma manteve-se como delegada sindical das
enfermeiras da Maternidade Alfredo da Costa no Sindicato dos Enfermeiros
Portugueses.
Em 2002, o Presidente da República Jorge Sampaio
atribuiu-lhe a Ordem da Liberdade.
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